Impressões do Brasil de um imigrante russo ao Québec

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    • #8489
      FCelso
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      Olá pessoal,

      Venho aqui compartilhar com vocês a experiência de um imigrante russo ao Québec que passou 6 meses no Brasil. De junho/2012 a novembro de 2012 (“inverno”/primavera)

      Histórico da família:

      Imigrou da Rússia ao Québec (Montréal) em 1995 (17 anos atrás) quando a União Soviética de destituiu e a família dele (como tantas outras) passou por dificuldades (o salário dele, na época, era de U$ 20,00 por mês – como chefe de laboratório de pesquisa na área de materais para foguetes). Mudaram-se para a Cidade do Québec três meses depois da chegada. Ele iniciou trabalhando na ULaval como pesquisador associado, onde segue até hoje (emprego depende da aprovação de projetos por parte dos professores titulares – atualmente ele está desempregado). A esposa fez francisação quando chegou em Ville de Québec e após 5 anos conseguiu um emprego no ministério das pensões do Québec. Hoje é ela quem sustenta a família, que é constituída por marido e esposa (ambos na faixa de 55 – 60 anos), um filho de 30 anos que mora com eles (que está desempregado, estava cursando administração, mas largou e não sabe que rumo seguir) e um filho de 36 anos que mora em Victoria – Colúmia Britânica (que é técnico de radiologia do Exército Canadense – ele passou por muitas indecisões e empregos antes de se engajar no exército).

      Sobre a experiência/visita:

      Obtive a partir de uma proposta ao CNPQ, uma bolsa de pesquisador visitante com duração de 6 meses e passagens de ida e volta (Ville de Québéc – Porto Alegre). Essa bolsa de pesquisa estava relacionado a um projeto de pesquisa com 3 universidades, uma privada no RS, uma pública no RS e uma pública no RJ. Trabalhamos em conjunto 3 meses com universidade privada no RS, 3 meses com a universidade pública no RS e 1 semana na universidade pública do RJ.

      Nesse período de 6 meses, ele pôde visitar as seguintes cidades:

      – Porto Alegre e Novo Hamburgo (RS) – maior parte do tempo – cidades “sede”;
      – Passo Fundo, Erechim, Sarandi RS – minha região familiar – 1 fim de semana;
      – Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Gramado, Canela RS – 3 fins de semana após conhecer um casal russo na mesma faixa etária que mora em Caxias do Sul;
      – Florianópolis, Ingleses ,Bombinhas SC – 1 feriado prolongado / 4 dias;
      – Rio de Janeiro RJ – 1 semana – trabalho;
      – Salvador BA – 1 semana – férias.

      As principais impressões positivas acerca da experiência por ele vivida:

      – Alimentação com melhor qualidade e menor custo (tanto comparando com QC ou Rússia); ficou especialmente bem impressionado com a qualidade da carne; Almoçar fora de casa, em restaurante com buffet, especialmente o livre, por 7 dólares, chamou muito sua atenção;

      – Cobertura e eficiêcia do sistema de transporte público em Porto Alegre e na Cidade do Rio de Janeiro;

      – Hospitalidade das pessoas, mesmo não ele sabendo falar português, as pessoas em geral foram muito prestativas; foi possível conversar com uma vendedora numa cidade pequena no interior do RS e isso foi uma boa surpresa para ele;

      – Sua percepção do Brasil é que há mais oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional do que no QC;

      Alguns dados interessantes:

      – Diminuiu 10 kg nesses 6 meses;
      – Aumentou a prática de natação de 45 min/dia na ULaval para 2h/dia na PUCRS;
      – Sempre que tinha alguma folga (sábado, domingo, feriado), fazia de 30 a 60 km de bicicleta pela cidade (Porto Alegre);
      – Melhorou o sono (antes de vir ele tinha dificuldades para dormir);
      – Quando almoçava em restaurante SEMPRE comia feijão, arroz e carne;
      – Ficou impressionado quando fazíamos 3 turnos (um esporte, dois trabalho) e depois havia convite para sair à noite e madrugada adentro;
      – Ficou impressionado com a beleza das mulheres no RS especialmente 8)

      Impressões negativas e pontos fracos/polêmicos:

      – Burocracia muito lenta, especialmente para registrá-lo como trabalhador estrangeiro, abrir conta em banco, etc, levamos em torno de 2 semanas;

      – Corrupção divulgada na imprensa: segundo ele, o Brasil está no jardim da infância se comparado com a Rússia;

      – Violência no trânsito: motoristas brasileiros são muito mais conscientes que os Russos;

      – Violência geral: Ele próprio (um senhor de 59 anos, 1,95m e 105kg) não teve episódios de violência contra si, mas soube que o casal russo de Caxias do Sul fora assaltado em um ônibus intermunicipal e também teve a casa de praia em SC roubada.

      Para finalizar, deixo aqui o que ele me escreveu depois do fim de 2012.

      “This year was extraordinary to me. I got a very new experience of getting acquainted with the Brazil and people of the country, received a lot of new impressions and visited many new places. The country will always stay in my memory as a very warm sunny place with great people and very special lifestyle”.

      Fica aí o texto para reflexões e comentários.

      Abraço,
      Fabrício

    • #59474
      FCelso
      Participante

      Uma colaboração que considero válida aos futuros imigrantes: algumas observações feitas pelo imigrante russo ao QC.

      – Maiores dificuldades da família: língua e integração com a sociedade. O casal imigrou na idade aproximada de 45 anos, com dois filhos adolescentes. O filho mais novo fala francês e inglês fluentes, foi praticamente integrado à sociedade quebeca, na escola, grupos de amigos, convívio social, mas isso não está garantindo atualmente, aos 30 anos, o seu sucesso profissional. O filho mais velho encontrou o caminho como técnico no exército, optando por imigrar para a parte inglesa e utilizando inglês como seu idioma principal. A esposa não fala inglês, mas tem francês fluente, o que é suficiente para o cargo de gerência e controladoria que ela exerce no ministério das pensões. O marido fala inglês fluente e francês funcional (dia a dia), mas se lamenta de ter sido comodista e de não ter sido mais pró-ativo quando estava começando sua vida profissional no QC, isto é, não confiar apenas nas bolsas de projeto sendo pesquisador e buscar se integrar no meio acadêmico de modo a obter uma posição de professor pleno, ou ainda, buscar outra atividade enquanto estava com bolsa e era mais jovem. Agora com quase 60 anos está complicado para ele conseguir mudar de área e também obter bolsas devido ao orçamento reduzido do governo Canadense para pesquisa. Em relação ao clima, não houve maiores impactos, uma vez que eles moraram bom tempo na Sibéria e depois no Casaquistão (mais quente).

      – A sociedade é bastante fechada e algumas profissões têm uma máfia que controla que trabalha nelas. Explico: ele tem um amigo médico que imigrou da Rússia, fez todas as equivalências durante 6 anos e depois disso passou os 4 anos na residência obrigatória (já tendo feito tudo isso na Rússia). No último ano da residência, o avaliador decidiu não recomendar o médico para a prática da especialidade, sem justificativa e sem direito à contestação. Uma vez que a avaliação é subjetiva, o médico russo não pode trabalhar na sua área.

      – Como conselhos gerais, o russo mecionou:

      1) Identificar muito bem as possibilidades de trabalho e mercado atual de trabalho ;/ reais possibilidades e custo/prazos para equivalências;
      2) Estar com inglês e francês fluentes / quanto maior a responsabilidade do cargo, maior o nível de proficiência;
      3) Preparar-se com o máximo de $ que puder;
      4) Ser uma pessoa aberta a mudanças e praticar a flexibilidade e a resiliência.

      Acredito que esses 4 itens todo pretendente à imigrante já deve saber :wink:

      Abraço,
      Fabrício

    • #59486
      roders
      Participante

      Excelente post, eh sempre bom ter os dois lados da moeda.

    • #59489
      Alex_e_Podushka
      Participante

      Como cada um tem sua opinião:
      Pareceu que ele quis informar, mas deixou a interpretação totalmente por conta do leitor.

      @FCelso wrote:

      – Corrupção divulgada na imprensa: segundo ele, o Brasil está no jardim da infância se comparado com a Rússia;

      Ele quer dizer que a corrupção nossa vai crescer e virar como na Rússia ou que ele já aprenderam muito sobre isso e agora a Rússia está melhor que o Brasil? A corrupção na Rússia é muito maior que no Brasil, só que lá não sai na mídia de grande porte porque os principais canais, 1 e 2, são do governo, logo o governo controla a mídia de TV diretamente e outras mídias de forma indireta também, pois se alguém se opor ao governo Russo será ativamente perseguido (caso de algumas celebridades durante os protestos de Março-Abril 2012 em Moscow) e se você colocar a boca na butija, denunciando alguma corrupção forte pelo governo, você será perseguido, acusado daquilo que está denunciando, preso e morto na cadeia, conforme o caso http://en.wikipedia.org/wiki/Sergei_Magnitsky.

      @FCelso wrote:

      – Violência no trânsito: motoristas brasileiros são muito mais conscientes que os Russos;

      O que seriam mais conscientes? Conscientes com os pedestres ou entre si?
      Se comparar Moscow e Rio de Janeiro, os motoristas Russos são menos conscientes entre si e muito mais conscientes com os pedestres que não tem nem como comparar. E os ônibus lá dirigem bem mais educadamente e suavemente do que os do Rio de Janeiro. Mesmo os carros sendo menos conscientes entre si, lá eles pelo menos sabem dirigir, já no Rio de Janeiro é raro alguém colocar a seta para avisar a troca de faixa, quando lá é o normal.

      Achei legal ele falar sobre as indecisões dos filhos e os arrependimentos dele. Seria legal que ele desse a opinião dele sobre porque que ambos os filhos tiveram essa indecisão.

      Abs

    • #59504
      FCelso
      Participante

      @Alex_e_Podushka wrote:

      Como cada um tem sua opinião:
      Pareceu que ele quis informar, mas deixou a interpretação totalmente por conta do leitor.

      Achei legal ele falar sobre as indecisões dos filhos e os arrependimentos dele. Seria legal que ele desse a opinião dele sobre porque que ambos os filhos tiveram essa indecisão.

      Abs

      Olá Alex e Podushka,

      De fato, eu comentei com ele que colocaria uma mensagem aos futuros imigrantes aqui, focando principalmente o que ele gostou e não gostou na sua experiência. Ele não comenta muito a respeito do filho mais novo, mas elogia muito o filho mais velho. Não puxei o assunto das dificuldades do filho mais novo a fundo. Talvez eu consiga fazer isso conversando diretamente com o rapaz, pois pretendo visitá-los no próximo verão (julho) se nosso projeto de pesquisa aqui for aprovado, pois prevê interação com a ULaval. Não me parece questão de indecisão, mas antes, dificuldades de adaptação e integração.

      Abraço,
      Fabrício

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