Home › Fórum › Vivendo no Canadá › Cotidiano › Bullying causa suicídio de Marjorie Raymond
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mrodolfo.
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4 de dezembro de 2011 às 22:22 #7768
FCelso
ParticipanteBoas pessoal,
Uma notícia muito desagradável.
Para quem ainda não viu, aqui tem a notícia informando que Marjorie Raymond cometeu suicídio no Québec, devido ao prevalecimento de uma colega.
http://ca.news.yahoo.com/quebec-teen-tormented-school-commits-suicide-190903490.html
Quem está aí, sabem dizer como está repercutindo o caso? Estão tomando medidas legais, de modo semelhante a Ontário, para evitar que casos como esse se repitam?
P.S. Vi essa notícia acessando o blog da Patinha, que colocou uma mensagem de protesto.
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4 de dezembro de 2011 às 22:39 #48489
Carlos_Santos
ParticipanteOla Celso,
nao tido muito tempo para ver TV depois de uma semana de férias os projetos estao à 150%, nao tem sobrado muito tempo.
o mal uso da internet e a forte pressao que os jovens fazem entre si, pessoalmente ou principalmente “virtualmente”, com o uso de redes sociais, aonde é bem mais facil de intimidar e criar estas situacoes.
Quem nao cuida dos filhos, acaba tendo estas infelizes surpresas, como o foi o caso da menina.
Agente sempre diz que o melhor nestes casos é o papo em casa, mas aqui no Québec, nao é assim que acontece, logo….
Melhor prevenir e sempre estar em contato com os filhos e o que eles passam no cotidiano.
Obrigado por trazer esta questao aqui no forum!
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5 de dezembro de 2011 às 15:37 #48494
mrodolfo
ParticipantePrólogo: O POST É LONGO!
Assim como o Carlos mencionou, a existência das redes sociais potencializou algo que sempre existiu, mesmo na vida escolar de nós que temos mais de 35 anos. Apenas se deu um nome à coisa.
Muitas discussões estão ocorrendo, chamando-se diversos especialistas para opinarem. Uma das medidas que foi muito comentada na semana passada foi a expulsão do autor da intimidação. Isso, no fim das contas, não resolve o problema.
Nós pais temos que ser vigilantes. O fato de sermos imigrantes aumente ainda mais essa responsabilidade. Temos em nossa casa um trabalho motivacional e de ajuste na autoestima das crianças que é diário.
Vou relatar o caso que vivenciamos no ano passado. Não é estória que ouvimos ou lemos. Nós a vivenciamos.
Quando nos mudamos, escolhemos viver em Ste-Foy em função das escolas internacionais, primárias, que existem no bairro. Nossos filhos foram matriculados na École d’éducation internationale Filteau, que fica na esquina do Chemin Ste-Foy, pois morávamos praticamente do lado da escola.
Não temos nada a reclamar da escola sob a ótica do conteúdo ensinado. Já sob o ponto de vista de comportamento…
A primeira coisa que nos chamou muito a atenção é que, naquela escola, as crianças eram obrigadas a fazer fila de entrada não importando o tempo que se fazia do lado de fora, chuva, sol ou neve. Para aqueles que não estão habituados, a maioria das escolas por aqui tem páteos exteriores descobertos e era ali que eles deveriam ficar. Detalhe “nazista”: apenas as crianças que não estavam no serviço de guarda eram obrigadas a ficar do lado de fora quando chovia. Reclamamos, sim, com a direção, sempre por escrito, e as respostam eram que ali as coisas eram dessa maneira. Não é por menos que meus filhos chegavam atrasados quando chovia, acompanhados por mim ou por minha esposa, e entravam pela secretaria nesses dias.
Nossos filhos, um casal, tinham 9 e 7 anos. Não é uma idade à qual as crianças tem maturidade para entender algumas coisas que passam à sua volta sem a ajuda dos pais. Isso vale para os imigrantes e para os locais.
A escola, por estar situada num bairro com poucos apartamentos, tem uma clientela mínima de imigrantes, ao contrário de sua co-irmã, a École St-Mathieu, que fica perto do Chemin des Quattre-Bourgeois. Em função disso, a Filteau não tem classe de acolhimento, o que é muito bom para a integração das crianças. O lado ruim é que as crianças locais não sabem muito bem lidar com os alienígenas…
Não importando como a escola está organizada, todos os alunos não-francófonos tem direito às aulas de francisação. A de meus filhos acontecia no horário das aulas, em classe individualizada com professora especialista – a Mme Helène é ótima!, com “direito” a algumas saídas para trabalho complementar. Como uma crianças nessas idades reage a esses “privilégios”? É uma situação delicada.
Como toda intimidação precisa de três ingredientes para ocorrer: o intimidador, o intimidado e a plateia. Retire um deles e a intimidação não ocorre. Pode haver um quarto elemento, o instigador, que exerce papel de liderança momentânea sobre alguém e o manipula para que esse se torne um intimidador. Estranho, mas foram exatamente filhos de imigrantes que manipularam crianças quebequenses para que essas intimidassem meus filhos.
No caso de minha filha, uma garota muçulmana, da classe dela, manipulou as outras para que excluíssem minha filha do grupo e não a deixassem brincar com elas no intervalo. Ao percebermos uma pequena mudança nas atitudes dela e uma breve conversa, dissemos a nossa princesa como ela deveria proceder: reaja e diga que vai brincar independente do que as meninas disserem; caso não dê resultado, busca apoio no adulto responsável pela área; caso não funcione, procure a professora, sempre nos conte tudo. Na primeira vez, funcionou a reação e numa segunda, a procura à professora. Não tivemos mais problemas com ela.
No caso de nosso filho, foi uma menina quebequense que começou a indimidá-lo no caminho entre nosso apartamento e a escola, gritando o nome dele e dizendo coisas que não compreendíamos. Isso passou a incomodar inclusive minha esposa, já que a garota nada dizia quando eu acompanhava os meninos até a escola. Depois, a garota virou responsável pela organização na subida de uma das escadas da escola e passou a barrar nosso filho sem que houvesse motivo. Ele mesmo reclamou com a vice-diretora e depois nós reforçamos a reclamação e a intimidação parou. Porém, num outro dia, ao retornarem para casa, essa menina o empurrrou e, ao se desequilibrar, ele acabou por empurrar a irmã que quase bateu a cabeça num hidrante.
Logo cedo, no dia seguinte, escrevi uma mensagem à diretora, pois já estava morando em Montréal enquanto eles ficavam em Québec até o final das aulas. Escrevi tudo o que se passava e que podíamos trabalhar com ele toda a parte psicológica mas, quando a agressão física partia de uma garota, isso era algo que ele não poderia trabalhar sozinho (se fosse um outro menino nós já teríamos dito para ele arrebentar a cara dele!). Meu e-mail foi educado porém duro. A diretora me respondeu prontamente que estava fora da escola naquele dia e que já havia direcionado a solução a outra pessoa. Ao voltar do almoço, nosso filho me perguntou o que eu havia escrito pois todos os professores receberam um cópia e estavam comentando o caso.
A direção chamou nosso filho e a garota para conversarem e foi quando ela disse que uma outra menina, que por vezes subia a rua com eles, ela vietanmita ou chinesa, que a instigava a fazer aquilo. Nosso filho disse que não tinha nada como a menina, a manipulada, e que gostaria muito de ser amigo dela. Minha esposa acompanhou toda a conversa. Veio, então, o que mais nos chocou: a direção da escola disse que se ambas não parassem com isso, chamaria os pais delas para conversarem! Como assim os pais dessas crianças não haviam sido envolvidos até então?
Isso é o que acontece em algumas escolas daqui. Na busca de criar indivíduos autônomos, alguns pedagogos pecam ao se esquecerem que os responsáveis por passar valores para os filhos são os pais. Mas não posso dizer que isso acontece em todas as escolas.
Desde setembro estamos em Ste-Julie, uma cidade a 30 km de Montréal. A escola das crianças apresentou mais ou menos o menos termos de comportamento que todas as crianças tem que seguir. O que mudou? A atitude do professor de meu filho. Já na reunião de pais ele avisou que, apesar da escola ter dois níveis de tolerância à intimidação – o primeiro vai um recadinho pequeno e no segundo faz-se um plano de ação com a criança e os pais, ele despesa o primeiro e parte logo para o segundo. Indimidação é algo que ele não tolera.
Continuamos a fazer nossa vigilância. O trabalho de motivação e autoestima não pode cessar. Nossos filhos são pequenos, pouco se importam com o facebook ou outras mídias sociais. Eles apenas jogam os *villes da vida. Mas eles vão crescer…
Não é um trabalho fácil.
Penso que muita coisa vai mudar. Leis devem ser discutidas e aprovadas no curto prazo e uma penalização severa aos intimidadores vai ocorrer.
Na minha opinião as comissões escolares deveriam criar canais para que os alunos ou seus pais pudessem reclamar e as próprias comissões deveriam acompanhar a solução dos casos. Expulsão não resolve o problema e trabalhar a tolerância com os jovens é que se torna imperativo. Trabalhos em ONGs podem ser uma grande alternativa.
E continuemos à luta!
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5 de dezembro de 2011 às 20:44 #48504
FCelso
ParticipanteBoas Marcos,
Longa excelente mensagem! Mostra bem a preparação que quem tem filhos deve ter antes de chegar aí e com o que terá que trabalhar na sociedade. Ao que parece os quebecas não tem uma noção tão apurada da responsabilidade que é passar os valores aos filhos. Depois não sabem por que a língua está desaparecendo, por que a gurizada se veste como cantor de hip hop e por aí vai…
A nós pais, muito empenho e dedicação, é o que nos toca!
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5 de dezembro de 2011 às 21:13 #48505
mrodolfo
ParticipanteFabiano,
Obrigado.
Nós pais temos muito trabalho…
Vejo que a perda de valores não é muito diferente daquilo que vivíamos no Brasil, em Santo André. Nosso filho mesmo já havia tido a necessidade de literalmente socar um amigo na escola para se defender da intimidação. E ele o fez, como última medida. Depois disso, o garoto parou de encher o saco dele.
Abraços,
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